segunda-feira, 29 de junho de 2009

Michael Jackson

A música mundial teve vários períodos onde se destacaram personagens de fulgor e genialidade. Mas o século XXI não vai demorar a reconhecer que o mais importante deles tenha sido criado a partir do disco Off the Wall de 1979, onde um negro magro, de feições delicadas, voz infantil, mas de uma mobilidade próxima da etérea ou transcendente, ofuscou tudo e todos aqueles que até então foram denominados ‘astros’ do show buzines.

Há neste ponto um divisor de águas, posto que a partir de então, a música dançante não seria mais a mesma, nem para negros nem para brancos em todo o mundo. Michael Jackson pode ter dito a si mesmo: Yes, I Can!”
Quem ouve o tema do programa “Vídeo Show” da Rede Globo, “Don't Stop 'til You Get Enough” não imagina que esta e “Rock with you”, são as duas composições dançantes do álbum daquele ano de 79 que marcavam o inicio de um novo ritmo mundial e a quebra quase que total de algumas barreiras.

Com Michael veio a revolução na produção artística, coreográfica, efeitos e vídeocliples. A música passava a ter uma história contada através de cenas. O público consumidor, artístico e empresarial teve contato então com o inédito, o telúrico e astral se inter-cruzando, a arte do toque de Midas de um artista completo e perfeccionista, cuja história de vida é também a mais paradoxal para quem viveu cercado pelo glamour.

Fama e dor

Sua história familiar é conhecida. Nasceu no dia 29 de agosto de 1958, filho de uma família de nove filhos na localidade de Gary, Indiana. Filho de negros pobres, era o mais talentoso entre nove irmãos.
Foi espancado várias vezes pelo pai e pelos irmãos mais velhos, mesmo sendo um garoto prodígio com agenda cheia para apresentações pelo exterior.

Com cinco anos de idade, em 1964, Michael já era vocalista na banda Jackson Five formada com os irmãos Marlon, Jackie, Tito e Jermaine. Após vencerem um concurso de bandas amadoras realizadas no Harlem, Nova York, em 1967, assinaram o primeiro contrato com a gravadora Steeltown.

Em 1968, o Jackson Five começou a fazer excursões pelo território norte-americano. No ano seguinte, o grupo foi lançado publicamente no programa de TV de Diana Ross e essa apresentação deu origem ao primeiro disco pela Motown, uma gravadora voltada para os músicos negros.
Os jovens falavam de amor e faziam performances de soul music no palco, levando os fãs negros e brancos ao delírio.


A individualidade

Paralelo ao Jackson Five, a gravadora passou a explorar a imagem do garoto talentoso com uma carreira solo paralela. Em 1972, a Motown lançaria "Got to Be There”, o primeiro álbum solo do jovem vocalista. No mesmo ano, em agosto era lançado “Ben”, álbum com 11 faixas, mais trabalhado com baladas (canções românticas).
Em 1973 veio "Music and Me" e no ano seguinte “Forever”,

No ano de 1974, com exceção de Jermaine Jackson que resolveu ficar, os outros quatro irmãos saíram da Motown. Os motivos alegados é que a gravadora não permitia que os músicos gravassem composições próprias. Os quatro irmãos assinaram então com a Epic, usando uma nova denominação: 'The Jacksons”.
A Motown reincidiu o contrato e ficou com os direitos autorais do logotipo e do nome 'Jackson Five'.

Como parte da rescisão de contrato com a Motow, Michael Jackson gravou em 1975 o LP 'Forever’, onde destacou-se a música 'One Day in your life'. Aos poucos, Michael foi se deslocando para o seu destino: a consagração.
Seu sucesso também abriu espaço para os músicos da funk music fora dos Estados Unidos.

Surge o astro

Após conhecer o maestro Quincy Jones em 1978, nascia uma parceria que iria revolucionar a música e a produção artística. Detalhista e obstinado, Michael Jackson inventaria um ritmo novo, a Pop Music, uma mescla de rock-and-roll, dança de rua e soul music. Explode então em vários países do mundo, em 1979, o álbum 'Off the Wall”, quebrando todos os paradigmas ao misturar o rhythm and blues com outros estilos.
Era algo novo um ritmo vibrante e envolvente, derrubando todas as barreiras raciais e colocando jovens do mundo inteiro pra dançar. Nascia a música Pop!

E não parou por aí. A trajetória de Michael Jackson seria assinalada por outra habilidade magnífica: a dança. Há quem diga que o estilo novo de dançar criado por ele, onde se destacam o Robot e o Moonwalk (caminhando na lua) seja ainda mais marcante do que as canções. O anjo negro flutuava e dava em seu corpo nós e parafusos, ‘breaks’ impressionantes como se fosse construído por circuitos elétricos. Para muitos, era como um desafio à lei da gravidade.

Além do Moonwalk, sua coreografia mistura alguns passos do estilo clássico de Fred Astaire na Broadoway, com a soul music dos guetos e a eletricidade do rock. Claro que o soul era imprescindível, pois ali estava a alma do criador, no corpo esguio da criatura. Um toque futurista que vinha com um forte conteúdo da dança de rua, o breack, deu então o tempero para movimentos mágicos e surpreendentes.

Fortalece o mito

Depois de quatro anos desaparecido, eis que ele surge com outra explosão em disco: O álbum Thriller lançado em 1982 pela Epic com as faixas "The Girl Is Mine" (em parceria com Paul McCartney), "Billie Jean" e "Beat It", faixa que passou a ser tocada na WAAF 97.7 FM de Boston, a primeira rádio de rock na história a colocar na sua grade a música de um negro em 1983
Thrller é ainda hoje o álbum mais vendido no mundo.

Outra inovação viria no grande pacote desse lançamento. A superprodução nos videoclipes, onde o cantor contracena com vários atores fantasiados de zumbis.
A nova imagem trazia por Michael na obra Thrller fez com que seu novo traje ditasse a moda em todo o planeta, por vários jovens e crianças: sapados, meias brancas até o tornozelos, calças mais curtas, jaquetas estilo militar e luvas brancas. O bailarino Michael Jackson parecia sobrepujar o cantor . O mundo ao redor derrubava os muros do racismo.

Com "Bad" (1987) o sucesso não foi tão grande quanto o anterior, mas o suficiente para manter o cantor no topo das paradas em 25 países. Os especialistas não apostaram no novo trabalho pois acharam que não teve a mesma ousadia de antes.
O mesmo aconteceu com "Dangerous" (1991) Mas o cantor mais uma vez tapa a boca da crítica e vende mais de 30 milhões. Quatro anos depois, Michael lança o álbum duplo "HIStory: Past, Present and Future Book I". Em seguida,Blck and White tenta retomar o fulgo, mas não atingeo desejado.

Em 1993 o cantor vem ao Brasil onde grava com a banda Olodum no Peloruinho, em Salvador e também na favela Santa Marta, no Rio de Janeiro.

Com o lançamento de "Invincible" em 2001, a primeira decepção, por culpa de um atrito com a Gravadora Sony que não se empenhou na divulgação do trabalho novo. A venda foi baixa, cerca de oito milhões de discos vendidos, apenas.

A luz se apaga!

Para tentar conter as fortes dores, desde os anos 80 o cantor já fazia uso de medicamentos fortes como o Emerol. A partir dos anos 90, no entanto, Michael Jacson entrava em queda livre.
O inventor e Rei do Pop vivia o drama pessoal de uma doença degenerativa, Vitiligo que alterava sua cor de pele, apresentando periodicamente grandes deformações. O cantor vinha no decorrer dos anos se submetendo a várias operações plásticas para alterar sua fisionomia. Isso causou mal estar nas comunidades negras do seu país.
Seu calvário aumentou ainda mais ao ser relacionado em denúncias de pedofilia. Michael vivia cercado de crianças no rancho que mandou construir para seu descanso, o ‘Neverland” (Terra do Nunca) assim como um moderno Peter Pan cercado de sonhos infantis. Talvez, os sonhos que a vida profissional lhe tirou quando era garoto.

Michael Jackson foi uma criança trabalhando feito gente grande. E era grandioso! Depois de adulto, tentava provavelmente retomar a infância que lhe foi roubada. A opinião pública não lhe permitiu esse êxito. Michael Jackson faleceu às 18h30 do dia 25 de junho de 2009.

O astro retorna agora da terra ao firmamento, reino onde é só dizer “Pirlimpimpim” e uma luz maravilhosa vem ao encontro com sua capacidade dar novas feições a uma triste fisionomia de abóbora. fazendo dela a carruagem dos escolhidos. Aqueles que vão, após mudarem algumas coisas do mundo com um toque de sua maestria e magia.